Transtornos Mentais Afetam Milhões de Adolescentes e Exigem Resposta Urgente

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Especialistas alertam para o crescimento de depressão, ansiedade e automutilação entre jovens; políticas públicas e apoio da sociedade são fundamentais para evitar crise ainda maior.

Por Adriana Ramalho

Um silêncio doloroso ronda milhões de adolescentes no Brasil e no mundo. Por trás de sorrisos disfarçados, muitos jovens enfrentam transtornos mentais como depressão, ansiedade, síndrome do pânico e automutilação, condições que têm se agravado nos últimos anos. Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) revelam que o suicídio já é a quarta maior causa de morte entre jovens de 15 a 29 anos, enquanto pesquisas nacionais mostram que 30% dos adolescentes brasileiros apresentam sintomas de ansiedade. 

No Brasil, o cenário é igualmente alarmante. Segundo o Ministério da Saúde, houve um aumento de mais de 30% nas notificações de casos de automutilação entre adolescentes nos últimos cinco anos. Em meio a esse contexto, especialistas alertam: a adolescência, já marcada por transformações intensas e conflitos emocionais, tem se tornado ainda mais vulnerável diante de pressões sociais e por desempenho escolar, a exposição excessiva às redes sociais ou a exclusão digital, o bullying, a violência urbana, a desigualdade social, a falta de acesso a cuidados de saúde mental adequados, e a falta de estrutura familiar contribuem para essa epidemia invisível. 

A pandemia de COVID-19 intensificou o problema, com o isolamento social, o luto e a incerteza do futuro, deixando marcas profundas.

Apesar dos números alarmantes, o acesso a tratamento psicológico e psiquiátrico ainda é limitado, especialmente para jovens de baixa renda. O Sistema Único de Saúde (SUS) enfrenta filas longas para atendimento, e muitas escolas não possuem profissionais capacitados para identificar e encaminhar casos. 

“Os adolescentes estão gritando por ajuda, mas muitas vezes não são ouvidos. Precisamos de políticas públicas eficientes, com investimento em saúde mental nas escolas e campanhas de prevenção”, destaca Dra. Carla Silva, psiquiatra especializada em infância e adolescência. 

Apesardo crescimento dos casos, os serviços públicos de atendimento psicossocial ainda são escassos em muitas regiões do país. Os Centros de Atenção Psicossocial Infantojuvenil (CAPSi), que deveriam funcionar como porta de entrada para tratamento gratuito, estão longe de atender à demanda. De acordo com levantamento da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), mais de 70% dos municípios brasileiros não contam com CAPSi.

Além disso, escolas públicas carecem de psicólogos escolares em seus quadros. Embora a Lei nº 13.935/2019 determine a presença de profissionais de psicologia e serviço social nas instituições de ensino básico, a medida ainda não foi efetivada de forma ampla.

“A saúde mental dos adolescentes precisa ser vista como prioridade nacional. Não se trata apenas de um problema individual, mas de uma questão social, que impacta o presente e o futuro de uma geração inteira”, afirma a psiquiatra infantil e pesquisadora da Fiocruz, Dra. Marisa Albuquerque.

Enquanto o poder público falha em oferecer suporte, organizações não governamentais (ONGs) tentam preencher essa lacuna. Projetos como o CVV (Centro de Valorização da Vida), que oferece apoio emocional gratuito, o Instituto Ame sua Mente, que promove conscientização sobre saúde mental nas escolas, e o ESA (Espaço Social Amparo) um programa sócio emocional que visa o combate à autolesão, depressão e ideações suicidas de crianças e adolescentes, e tem como principal campo de atuação e atendimento às escolas de São Paulo, levando intervenções artísticas e psicodramáticas através das artes cênicas vinculadas ao método do psicodrama.

“Precisamos desestigmatizar o sofrimento emocional. Muitos adolescentes não buscam ajuda por medo de julgamento ou por não entenderem o que estão sentindo”, diz André Marks, presidente do ESA.

“Nossa missão é romper o silêncio. Muitos jovens não têm com quem conversar, vivem em contextos de violência e preconceito, e acabam desenvolvendo traumas que os acompanham pela vida toda”, acrescenta Marks

Para especialistas e ativistas, combater a epidemia de transtornos mentais entre adolescentes exige uma ação conjunta e imediata entre governo, sociedade civil, escolas e famílias. Algumas propostas consideradas prioritárias incluem:

·       Ampliação dos CAPSi e contratação de psicólogos para escolas públicas;

·       Inclusão da saúde mental no currículo escolar, com educação emocional e práticas de autocuidado;

·       Investimentos em programas de prevenção ao suicídio e combate ao bullying;

·       Parcerias entre o setor público e ONGs que já atuam nas periferias e áreas de maior vulnerabilidade;

·       Campanhas nacionais de conscientização sobre saúde mental na adolescência;

·       Maior envolvimento da família e da comunidade no acolhimento aos jovens. 

A crise de saúde mental entre adolescentes não pode mais ser ignorada. A saúde mental do adolescente de hoje é o alicerce do adulto de amanhã. Não podemos negligenciar isso, É preciso agir agora para evitar que uma geração inteira sofra em silêncio, pois os transtornos mentais não tratados na adolescência tendem a se agravar na vida adulta, gerando impactos sociais, econômicos e de saúde pública.

Se você ou alguém que você conhece precisa de ajuda, ligue para o CVV (Centro de Valorização da Vida) que oferece atendimento gratuito, 24 horas por dia, pelo telefone 188 ou pelo site www.cvv.org.br ou busque apoio em unidades de saúde.

Adriana Ramalho, bacharel em Direito, é política (vereadora em SP 2016/2020), ativista social e palestrante sobre combate a violência doméstica, alienação parental, e saúde mental.

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