Em entrevista concedida nesta segunda-feira (24/07) ao Programa Giro Estadual de Notícias, do Grupo Feitosa de Comunicação, o cientista político Antonio Ueno, diretor-presidente do Grupo Ranking, fez uma análise do cenário político em Mato Grosso do Sul. Ele destacou que trabalha com pesquisas há 22 anos e tem formação acadêmica.
“Sou formado em Ciências Políticas, então, eu não falo por achismo, falo com dados que nós levantamos através da metodologia desenvolvida pelo próprio instituto. Nesses 25 municípios que nós percorremos aqui em Mato Grosso do Sul neste ano, fizemos por encomenda do site do nosso próprio grupo, que é o Diário MS News, pois não temos vínculo com nenhum pré-candidato nas eleições de 2024. Isso nos dá liberdade de divulgarmos os resultados encontrados”, reforçou, completando que, dessa forma, não pode ser acusado de puxar a brasa para a sardinha do lado A ou para o lado B.
Segundo Tony Ueno, o momento agora pode ser comparado com o período que os sojicultores chamam de “vazio sanitário”, quando não fazem o plantio da soja para que o grão não seja contaminado pela ferrugem. “Na política, os pré-candidatos estão preparando o terreno para plantar a sua soja em outubro, novembro e dezembro, fazendo a curva de nível, tirando tudo aquilo que tem de impureza na terra, colocando o adubo, preparando o solo para a plantação da safra 2023/2024”, comparou.
Ele ressaltou que, mesmo com as eleições sendo somente no próximo ano, é neste ano que os pré-candidatos fazem as articulações junto a partidos e grupos políticos para que possam fazer uma boa campanha eleitoral em 2024. “Esse é o intuito do Instituto Ranking levantar esses dados para que os partidos e os pré-candidatos tenham, em mãos, algumas informações que sirvam de base para que possam tomar as decisões”, reforçou.
O cientista político ainda lembrou que o “cartão de visita” de um instituto de pesquisa é os acertos. “Se o instituto não acerta, aí fica difícil. Em Mato Grosso do Sul, nós temos bons institutos, então, a competição é muito grande. O Instituto Ranking tem sobressaído sobre os demais, fomos o 2º instituto a acertar em nível nacional em 2022 e fomos o 1º instituto aqui de Mato Grosso do Sul em acertos e também em 2020 nas eleições municipais fizemos pesquisas em 51 municípios e acertamos 48. Tivemos 2 municípios que nenhum instituto acertou os resultados. Então isso nos dá uma tranquilidade muito grande quando nós divulgamos os números colhidos”, pontuou.
Estado bom de fazer pesquisa
Tony Ueno revelou que, diferente de Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Paraná, onde é muito difícil fazer uma pesquisa porque as pessoas são muito receosas, principalmente em questão de falar quanto ganha e onde moram, em Mato Grosso não se tem esse tipo de problemas. “Temos algumas restrições em alguns municípios da fronteira, onde já tivemos problemas de algumas pessoas chegarem e não deixar fazer pesquisa. Então, aí nós fazemos o uso de outra metodologia, que é por telefone, e os resultados acabam sendo precisos da mesma forma. Já provamos isso quando acertamos o resultado das últimas três eleições para a presidência da OAB-MS (Ordem dos Advogados do Brasil em Mato Grosso do Sul)”, argumentou.
Ele acrescentou que o Instituto Ranking faz pesquisas qualitativa e quantitativa, bem como consultoria e assessoria. “Eu faço planejamento político, por exemplo, se o candidato tal ou partido tal quiser uma consultoria, uma assessoria, uma orientação para tomar uma decisão, nós levantamos os números e apresentamos ao candidato ou ao partido para apontar qual é o rumo a ser tomado. Então, são privilegiados. Vou dar um exemplo, citando uma situação em Campo Grande, onde temos um pré-candidato cuja maioria dos seus eleitores é formada por mulheres de 40 a 60 anos de idade”, revelou, completando que esse pré-candidato não sabia disso.
Conforme o cientista político, outra informação que o partido desse pré-candidato não sabia é que esse público dificilmente muda o voto porque é um público feminino, já estabilizado e que ganham acima de três salários mínimos. “Esse eleitorado tem cultura e educação muito elevada. Então, são informações que nós não divulgamos na pesquisa e não repassamos para o público porque são dados, digamos assim, sigilosos, que vão beneficiar o candidato ou o partido na hora de tomar uma decisão, na hora que ele vai para a rua pedir o voto”, assegurou.
Ainda durante a entrevista, Tony Ueno detalhou o que é pesquisa qualitativa e quantitativa. “A qualitativa é quando você mede as opiniões das pessoas mais aprofundadas, a gente trabalha com grupos, grupos de sete, nove e onze pessoas. Por exemplo, se o contratante quer saber sobre uma curiosidade de Mato Grosso do Sul, se tem algum público específico que cresceu muito e quais as particularidades desse público. Temos como exemplo um grupo de eleitores que dizem não ter nenhuma religião, e esse grupo atingem 10% da população, ganham acima de três salários mínimos, trabalham, têm opinião formada, têm casa e carro próprios, têm bom rendimento e que não dependem, entre aspas, de políticos. Então, é esse público específico que precisa ser estudado com mais atenção”, resumiu.
Ele recordou que um público que surgiu no Brasil, principalmente no período da pandemia da Covid-19, foi o de pessoas que deixaram de frequentar uma igreja, uma associação ou uma organização. “Essas pessoas são de poder aquisitivo muito grande, que consomem produtos caros, então, ninguém sabe em que elas querem votar ou qual o objetivo delas. É para isso que serve uma pesquisa qualitativa, enquanto uma pesquisa quantitativa traz apenas a porcentagem. Essa é a diferença desses dois tipos de metodologias”, explicou.
Bolsonarismo
O cientista político ressaltou que o “bolsonarismo” não morreu, mesmo com a derrota de Jair Bolsonaro nas eleições do ano passado. “Quando você tira o poder do Bolsonaro de disputar uma eleição isso traz um reflexo muito grande na opinião desse eleitor de Mato Grosso do Sul. Nós sabemos que mais de 60% dos eleitores do nosso Estado são de centro-direita. Então, vai ter um impacto muito grande nas eleições do ano que vem a inelegibilidade dele. Acredito que partidos apoiados pela direita em Mato Grosso do Sul devem fazer o maior número de prefeitos e vereadores em 2024, pois estamos em um Estado bolsonarista porque, veja bem, nós somos do agronegócio, nós temos famílias tradicionais e habitantes que param para analisar antes de tomar sua decisão”, ressaltou.
Porém, Tony Ueno acrescentou que há uma relação muito grande com a esquerda em Mato Grosso do Sul, que fica em torno de 40% dos eleitores dos eleitores, a maioria localizada na região de fronteira, nas aldeias indígenas e nos assentamentos rurais. “Temos muitos movimentos sociais e de sem-terra porque aqui foi feita uma grande mobilização para que as pessoas ocupassem terras improdutivas. Todavia, o número de pessoas de centro-direita é maior do que o de pessoas da esquerda aqui em Mato Grosso do Sul”, disse.
Com relação aos municípios de uma forma geral, ele disse que as pesquisas apontaram que as prefeituras estão com as finanças muito equilibradas. “Menos Campo Grande, mesmo assim, já está conseguindo entrar em um ritmo muito forte na questão de arrecadação e de recebimento de emendas parlamentares. Entretanto, ainda há municípios de grande porte estão com dificuldades financeiras, mas, de uma forma geral, os pequenos municípios estão com as finanças muito equilibradas e isso vai causar uma influência muito grande nas eleições de 2024 porque quem não quer pegar um município que está com as contas em dia? Por exemplo, Ribas do Rio Pardo é um município que tem um monte de dinheiro em caixa e não consegue gastar”, pontuou.
O cientista político acrescentou que a LDO (Lei de Diretrizes Orçamentárias) de 2024 fará com que o município de Ribas do Rio Pardo faça grandes investimentos. “Então, é um município que está crescendo muito. O que está acontecendo lá é que o prefeito bateu de frente com a Câmara Municipal e com a própria imprensa. Além disso, o município tem pouco apoio de deputados estaduais e federais devido ser de um partido de extrema-esquerda, o único com prefeito do PSOL. Então, há essas situações, mas nós temos municípios muito bem, por exemplo, como Itaquiraí, onde o prefeito tem mais de 80% de aprovação, assim como Maracaju, onde o gestor também tem mais 80% de aprovação”, citou, lembrando que o Instituto Ranking percorreu 25 municípios e, agora, a partir do mês de agosto, vai percorrer a região do Bolsão, a região Norte e também alguns municípios da região de fronteira que ainda estão faltando para completar todas as regiões de Mato Grosso.
Campo Grande
A respeito de Campo Grande, Tony Ueno disse que a Capital tem uma diversidade muito grande de pré-candidatos. “Nós já estamos acompanhando aí por exemplo nomes muito conhecidos andando pela Rua 14 de Julho e comendo aquele tradicional pastel do Mercadão Municipal. Entre os nomes que vêm sendo ventilados estão o da Rose Modesto, do Lucas de Lima e do ex-governador André Puccinelli, que inclusive está liderando as pesquisas para a Prefeitura de Campo Grande”, destacou.
No entanto, de acordo com ele, o ex-governador tem uma rejeição acima de 25% e, quando você estimula somente um candidato sobre rejeição, que é a metodologia do Instituto Ranking, pois em alguns institutos o entrevistado pode citar a rejeição para vários candidatos, enquanto Ranking só é permitido rejeitar um candidato para que se tenha uma precisão muito exata sobre a rejeição. “Então, por isso, a candidatura do André é inviável para as eleições de 2024 porque pode ocorrer o mesmo de 2022, quando ele liderou, mas, quando chegou na reta final, perdeu fôlego devido a sua rejeição”, analisou, citando ainda como um nome forte o do deputado federal Beto Pereira, que é pré-candidato pelo PSDB.
O cientista político reforçou que nas eleições municipais do próximo ano os eleitores vão votar em bons administradores ou com um perfil de administrador de preferência que não tenha passado negativo. “Então, isso vai influenciar muito nas eleições de 2024 e quem deseja ser prefeito tem de se preparar para ser um bom administrador. Meu conselho é que faça curso de Administração ou pós-graduação em Gestão Pública e Gerência de Cidade, pois são formações que estão aí à disposição, com duração de seis meses, de um ano e até de dois anos. Mas por quê? Porque é esse o perfil que o eleitor está procurando, ele quer um bom gestor para tomar conta da sua cidade”, assegurou.
Tony Ueno apontou ainda que o orçamento para Campo Grande em 2024 será de R$ 6,5 bilhões, ou seja, US$ 1,2 bilhão. “É um caminhão de dinheiro, portanto, vai ter dinheiro para asfalto, para educação, para a saúde e para a infraestrutura. Não vai faltar dinheiro, por isso, o que está faltando muitas vezes é uma boa administração no município. Está sobrando dinheiro em caixa, mas o prefeito não consegue gastar. Então, é esse o perfil que o eleitor está procurando para 2024. Vou dar um exemplo, o governador Eduardo Riedel tem perfil de administrador e os pré-candidatos têm de ficar atentos porque aquele tapinha nas costas ou ser muito popular pode não dar certo para 2024”, alertou.
Ele disse que essas são situações que o Instituto Ranking levanta e algumas coisas que adianta para os candidatos que contratam a consultoria e a assessoria. “Nós pegamos cada município e trabalhamos o perfil do eleitor daquele município, estratificamos os dados para apresentar ao partido ou apresentar ao pré-candidato. São questões da administração pública e cuja importância ficou muito evidente nas eleições do ano passado. Eu estou falando do segundo turno passado, que para mim foi muito marcante. A gente da imprensa fez a cobertura completa e foi assim uma eleição marcante em todos os aspectos, que mudou tudo nos acréscimos do 2º tempo”, brincou.
O cientista político citou o ex-deputado estadual Capitão Contar, que acabou recebendo uma quantidade de votos bem maior do que aparecia nas pesquisas e justamente por conta da declaração do então presidente da República, Jair Bolsonaro. “Porém aconteceu que ele faltou a alguns debates, não respondeu algumas questões e eu acredito que isso acabou influenciando a população a votar no Riedel, que se mostrou extremamente preparado em todos os debates. Na eleição em Campo Grande, não vai ser diferente, vai ser a eleição mais disputada da história da capital de Mato Grosso do Sul e o vencedor poderá fazer muita coisa pelo município. Nós temos bons candidatos aqui, a prefeita Adriane Lopes, que tentará a reeleição, com o apoio da senadora Tereza Cristina, dos professores convocados, dos assessores, do secretariado, dos fornecedores, isso causa uma influência muito grande em uma eleição”, ressaltou.
Tony Ueno também citou Beto Pereira, que já foi prefeito duas vezes de Terenos, foi um excelente deputado estadual e está sendo um bom deputado federal. “Ele vem para a disputa com o PSDB, que tem a coordenação do Sérgio de Paula e do ex-governador Reinaldo Azambuja. Então, não tem ninguém bobo nessa história, são pessoas preparadas, profissionais e competentes que vão estar na disputa pela Prefeitura de Campo Grande”, analisou.
Outro bom exemplo, conforme ele, é o deputado estadual Lucas de Lima, que não tem rejeição. “É locutor há mais de 30 anos aqui em Campo Grande. O público dele é um público muito fiel. Então, o voto dele não muda. Como tirar o voto do Lucas de Lima? É difícil. Temos a Rose Modesto, que é uma candidata forte porque está administrando por ano cerca de R$ 11 bilhões na Sudeco (Superintendência de Desenvolvimento do Centro-Oeste), algo certo para poder disputar uma eleição. Então, são situações que vão se equilibrando. Temos o Zeca do PT, que já foi governador duas vezes, vereador de Campo Grande, deputado estadual, deputado federal. Ele foi bom governador, colocou a folha dos funcionários em dia, os funcionários têm saudades do Zeca do PT e ainda terá o apoio do Lula e isso pode causar uma influência muito grande no eleitor de Campo Grande”, projetou.
Na avaliação do cientista político, a disputa em Campo Grande está aberta e os candidatos terão que andar muito, percorrer os bairros, fazer muitas pesquisas, muita consultoria e muita assessoria porque será uma eleição acirrada, tanto para prefeito, quanto para vereador. “Quem é que não quer ser vereador de Campo Grande? Quando você faz uma conta de R$ 6,5 bilhões para 2024 no orçamento do município e a Câmara Municipal tem direito a 4,5%, são quase R$ 300 milhões no ano que vem. Este ano são mais de R$ 200 milhões. Então quem é que não quer ser vereador de Campo Grande poder estar participando de toda essa administração? Ou seja, a política do Estado cresceu muito e exige competência, participação e pessoas preparadas”, finalizou.
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