Um fundo de investimento em cadeia do agronegócio (Fiagro) pretende captar até meio bilhão de reais (R$ 500 milhões) para investir em terras degradadas de Mato Grosso do Sul nos próximos anos. Esse é o objetivo da gestora de fundos Vox Capital, que pretende comprar entre 15 e 20 mil hectares (de duas a dez fazendas) de terra no Estado até o próximo ano.
O produto já está em fase de captação no mercado financeiro, listado na B3, e tem o foco de recuperar terras degradadas, investir em agropecuária regenerativa e reduzir o desmatamento.
A empresa se posiciona como gestora de investimentos de impacto e pretende dar início a seu primeiro Fiagro, mas esbarra ainda na falta de critérios objetivos da certificação ESG (Meio Ambiente, Social e Governança, em tradução livre), que o fundo pretende obter para captar recursos de seus investidores.
O objetivo da Vox é recuperar a qualidade do solo das fazendas e nos planos da empresa está implantar a integração entre lavoura, pecuária e floresta. O objetivo seria criar gado, plantar soja, milho e milheto, sempre de forma circular, além de plantar eucalipto em algumas áreas. O fundo já divulgou as regras e o retorno que pretende dar a seus investidores.
A taxa de performance do fundo é de 20% sobre o retorno excedente a IPCA + 6%. Tal distribuição, porém, estará atrelada à meta de ter pelo menos 70% das áreas produtivas com os sistemas integrados instalados.
“A ambição do fundo é 100% ambiental e está preocupada com a saúde do solo”, diz Daniel Brandão, diretor de Impacto na empresa.
A Vox Capital informou ao Correio do Estado que nem as regiões nem as fazendas que serão compradas foram definidas, porque o fundo ainda está na fase de captação.
A gestora comprará as fazendas, a consultoria Regai filtrará quais as áreas que atendem aos critérios do fundo e, por fim, o trabalho em campo nas fazendas de Mato Grosso do Sul será operado pela Cocamar, cooperativa com sede em Maringá (PR).
CRITÉRIOS
Atualmente, a Vox analisa proposta de três instituições (uma universidade, uma organização da sociedade civil e uma empresa) para checar quem será responsável por analisar se os procedimentos propostos estarão, de fato, sendo seguidos.
Esse quarto ator, segundo Brandão, aumentará a transparência do fundo e a ideia é que ele atribua, de fato, o carimbo ESG ao fundo.
A falta de uma taxonomia nacional faz com que os critérios utilizados pelos gestores de práticas que seguem a linha desse tipo de governança voltada à preservação e atuação sustentável continuem diferentes dos estabelecidos por outras entidades.
PASTAGENS
O investimento na recuperação de pastagens degradadas também deve ser financiado pelo governo federal. Ainda neste segundo semestre, conforme o Correio do Estado divulgou no mês passado, será lançado um programa para recuperação dessas áreas. Em Mato Grosso do Sul, a estimativa é de que elas possam atingir até 1,8 milhão de hectares.
O Correio do Estado teve acesso aos dados que estão em análise no Ministério da Agricultura, e a previsão é de que cada produtor rural tenha, quando o programa for lançado, um crédito de aproximadamente R$ 15 mil por hectare para recuperar sua propriedade.
A medida se enquadra em um dos principais programas do Ministério da Agricultura do mandato de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). É uma das propostas do atual presidente da República e está em linha com um dos compromissos ambientais firmados pelo Brasil: o de ampliar a produção agropecuária no País sem avançar em biomas intocados, como florestas e partes do Pantanal.
O deputado federal Vander Loubet (PT-MS), líder da bancada federal de Mato Grosso do Sul, teve acesso ao plano que está em desenvolvimento no Ministério da Agricultura e está otimista com o que deve ser lançado, segundo ele, provavelmente neste mês.
“Trata-se de um programa que o produtor rural estava precisando há muitos anos, para ampliar ainda mais o seu faturamento e a sua capacidade de produção, sem contar que ele se mantém em sintonia com a cultura da preservação ambiental, tão importante nos dias atuais”, comenta o deputado federal.
Os recursos federais virão por meio de crédito facilitado, bem abaixo das taxas de juros praticadas pelo mercado, inclusive das que estão sendo praticadas no Plano Safra.
Estudos da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) estimam que, no Brasil, o total de áreas degradadas, a maioria de pastagens, atinja 40 milhões de hectares.
A título de comparação, o Brasil tem, atualmente, aproximadamente 56 milhões de hectares de área agricultável.
FINANCIAMENTO
Ainda não há detalhamento de como o programa vai operar, mas a linha de crédito que o governo federal deve abrir ao produtor, segundo informou o deputado Vander Loubet, deve permitir que os produtores rurais invistam na correção do solo, usando o crédito para adquirir adubos, fertilizantes, maquinários, para custeio de mão de obra, entre outras despesas que se enquadrem na correção do solo.
Uma das taxas cogitadas seria a de 7% ao ano, com um limite de crédito de R$ 5 milhões por beneficiário. O operador do programa, pelo menos inicialmente, seria o Banco do Brasil.
Além da Embrapa, o Instituto de Colonização e Reforma Agrária (Incra), a Confederação Nacional da Agricultura (CNA) e as federações que a compõem também serão partes integrantes do programa.
1,8 milhão de hectares
A estimativa do governo federal é de que a área com pastagens degradadas em Mato Grosso do Sul possa atingir até 1,8 milhão de hectares. Neste segundo semestre, o Ministério da Agricultura deve lançar um financiamento exclusivo para recuperação dessas áreas.