Com 900 mil habitantes, Campo Grande tem 1,6 milhão de carteirinhas do SUS e “sustenta” saúde pública do interior

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Apesar de o município de Campo Grande ter em aproximadamente 900 mil habitantes, de acordo com o último censo do IBGE, dados da Sesau (Secretaria Municipal de Saúde) revelam que a Capital conta atualmente com mais de 1,6 milhão de carteirinhas do SUS (Sistema Único de Saúde), ou seja, quase o dobro de moradores sendo beneficiados com a saúde pública.

Essa discrepância é porque Campo Grande atende pacientes de várias cidades do interior de Mato Grosso do Sul, bem como do Mato Grosso, do Acre, de Rondônia e até do Paraguai e Bolívia. 

“Essas pessoas vêm para Campo Grande, onde tem aqui um parente ou um amigo, transfere uma conta de luz ou de água para o nome delas, ou mesmo nem precisa fazer isso, pois o próprio cadastro do SUS aceita que elas apenas falem que moram aqui e retiraram a carteirinha”, revelou o cientista político Antonio Ueno.

Ele completou que muitas vezes essas pessoas precisam fazer um tratamento mais complexo e aí necessitam passar pela UBS (Unidade Básica de Saúde) ou pela UPA (Unidade de Pronto Atendimento) para pegar o encaminhamento e assim ser atendido na Santa Casa, Hospital Regional ou no Hospital Universitário.

“Depois da operação, elas vão para o tratamento e, no tratamento, têm direito ao medicamento, que é fornecido nas UBS de Campo Grande. Quando acaba o tratamento, essas pessoas voltam para a cidade de origem, mas, usaram todo o sistema do SUS de Campo Grande e ainda levaram o medicamento para o seu município, para o seu Estado ou até para o seu país, deixando a conta para a Prefeitura de Campo Grande”, alertou.

Campo Grande investe a mais na saúde

Antonio Ueno acrescentou que Campo Grande é a 9ª capital brasileira com maior investimento em saúde e a 3ª do país com maior investimento “per capita em saúde”, conforme dados divulgados no anuário Multi Cidades – Finanças dos Municípios do Brasil, de iniciativa da Frente Nacional dos Prefeitos (FNP).

Os dados levam em consideração os gastos executados pelos municípios no ano de 2021, com base em informações da “Finanças do Brasil – Dados Contábeis dos Municípios”, do Siconfi (Sistema de Informações Contábeis e Fiscais do Setor Público Brasileiro).

Em 2021, a Prefeitura de Campo Grande gastou um total de R$ 1.648.305.684,52 com saúde, perdendo apenas para São Paulo (R$ 15.196.478.340,68), Rio de Janeiro (R$ 5.218.822.715,20), Belo Horizonte (R$ 4.791.849.056,33), Fortaleza (R$ 2.581.135.767,13), Curitiba (R$ 2.478.753.104,22), Salvador (R$ 2.075.847.234,55), Porto Alegre (R$ 1.964.265.323,87) e Goiânia (R$ 1.669.191.901,80).

Em termos de despesa per capita, a Prefeitura da Capital gastou R$ 1.799,46, ficando atrás somente de Belo Horizonte (MG), com R$ 1.893,49, e Cuiabá (MT), com R$ 1.853,43.

“O município de Campo Grande, está gastando até 30% do orçamento na saúde, enquanto a determinação constitucional é de 15%”, ressaltou Ueno.

Nesse sentido, conforme ele, os vereadores, os deputados estaduais e federais e os senadores de Mato Grosso do Sul têm de debater essa questão para “compensar” a Prefeitura Municipal de Campo Grande, que está bancando a saúde pública de cidades do interior, de outros estados e países.

Para o cientista político, é preciso alterar o sistema de cadastro do SUS para não permitir que pessoas de outras cidades, estados e até de outros países tenham várias carteirinhas.

“A solução seria a bancada federal de Mato Grosso do Sul no Congresso Nacional e o próprio Ministério da Saúde criem uma resolução ou uma determinação para que a nossa Capital seja ressarcida quando atender pacientes de outras localidades ou até mesmo impedir que uma pessoa que já tenha a carteirinha do SUS não possa tirar outra”, sugeriu.

Ele defendeu que, mantendo uma única carteirinha do SUS, quando a pessoa for tratada em outro município, esse município de origem de onde ela tem o endereço teria de repassar o recurso para o município onde a pessoa fez o tratamento. “É esse o meu entendimento”, afirmou.

Pesquisa do Instituto Ranking Brasil em Março de 2023 em Campo Grande*

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