Campanha que enfrenta violência contra mulher põe como cúmplice quem “não mete a colher”

Com slogan que coloca como cúmplice aqueles que ignoram a violência contra a mulher, a campanha de Agosto Lilás em Mato Grosso do Sul foi lançada neste dia 1º, classificando o enfrentamento dessas agressões como “um dever de todos”.

Com a presença da primeira-dama de Mato Grosso do Sul, Mônica Riedel, a campanha foi lançada pela subsecretária de Políticas Públicas para Mulheres, Cristiane Sant’Anna Oliveira, na Acadepol do Parque dos Poderes, com a presença de diversas gestoras, autoridades e delegadas da Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (Deam). 

Como frisa Cristiane Sant’Anna, esse enfrentamento não deve ser discutido apenas com mulheres, mas também com homens, além de ter, principalmente, uma raiz dentro do próprio poder público. Instituído em âmbito estadual ainda 2016, o Agosto Lilás intensifica os trabalhos da Lei Maria da Penha, que completa 17 anos em 2023. 

Coordenadora-adjunta do Centro Especializado de Atendimento à Mulher em Situação de Violência (Ceam), a assistente social, Edna Bordon Lopes, esclarece melhor a temática deste Agosto Lilás, que terá ações de conscientização, lançamento de programas e debates. 

“Quem é esse cúmplice? Eu penso que qualquer pessoa que ouve, que vê e não se pronuncia. Esse slogan me fez refletir sobre quantas vezes isso não acontece no nosso cotidiano, quantas vezes a gente fica sabendo de um caso e pensa que a gente não pode contribuir de outra forma, mas a gente tem: a informação é a primeira forma”

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Ainda, a promotora de Justiça Aline Mendes Franco, coordenadora-Adjunta do Núcleo de Enfrentamento à Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher (NEViD), lembra um caso recente feminicídio registrado na Capital, em que houve essa “cumplicidade” de terceiros na execução do crime. 

“O agressor corria atrás da vítima com uma faca, a vítima fugia e alguém que passava de carro, viu e deu de frente para a cena de um homem com uma faca atacando uma mulher. Sabe o que essa pessoa fez? Ela subiu o vidro do carro e deu ré. Nós precisamos sair desse estado de letargia”, afirma ela. 

Com cerca de 16 ocorrências de feminicídio registrados até então neste 2023, segundo estatísticas da Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp), a secretária de Estado de Administração, Ana Carolina Nardes aproveitou a oportunidade para desmentir que “em briga de marido e mulher não se mete a colher”. 

“Não é porque seja algo que eu não vivencio que eu posso me calar. Não posso fingir que não estou vendo, que a violência não está acontecendo só porque não foi comigo. Hoje eu entendi que onde eu estou e com o que eu tenho de atribuições e competências, eu posso fazer muito”, frisa. 

Violências presenciadas

Tratando dessas violências presenciadas, casos que aconteceram no intervalo de dois dias [entre o fim de junho e início de julho] exemplificam os discursos das autoridades no lançamento desse Agosto Lilás: as mortes de Natali Gabrieli da Silva Souza, de 19 anos e Brenda Possidonio de Oliveira, de 25.  

No caso de Brenda, morta por Lyennan Camargo de Mattos Oliveira, os vizinhos ouviram gritos tanto da vítima quanto do filho dela, que gritava “você matou minha mãe”, por volta das 23h daquele 30 de junho. 

Já na manhã do sábado, 1º de julho, outra criança presenciou a morte da própria mãe pelo companheiro, sendo que Natali Gabrieli foi esfaqueada por Cléber Corrêa Gomez enquanto a jovem fugia com a filha do casal no colo. 

Nesse caso, amigos do casal relataram que ambos beberam a noite toda, com as primeiras brigas presenciadas ainda na presença dos convidados, enquanto todos participavam de uma festa. 

Depois desse primeiro momento, o próprio cunhado de Natali, que também era vizinho do casal, em depoimento à polícia, afirma ter visto a jovem correr com a cabeça machucada e depois avistar Cléber logo atrás com a faca usada no feminicídio.

Por fim, Edna Bordon lembra a forma com que muitas mulheres eram tratadas já na hora que buscam denunciar uma violência, frisando a importância de um acolhimento adequado em toda a qualquer agressão, física ou psicológica.  

“Muitas vezes, na hora da denúncia, essa mulher não é ouvida por uma pessoa que tem empatia, por uma pessoa que conseguiu se desconstruir e ouvir a história. Então, ali ela já desiste, e até retorna a conviver com o agressor”, destaca. 

Secretária-adjunta de Turismo, Esporte, Cultura e Cidadania, Viviane Luiza faz questão de destacar o trabalho conjunto a ser executado pela sociedade. 

“A cumplicidade é quando você percebe uma violência e vira as costas ou acha que aquilo é normal, e isso vale para todo mundo, não é só para polícia, para o Estado. Ignorar faz de você cúmplice quando nós, como pessoa física, cidadãos, olhamos para o que está acontecendo de errado e de alguma forma normatizamos”, conclui. 

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