Durante entrevista coletiva após reunião entre Ministros da Agricultura dos 11 países do grupo Brics com economias emergentes – Reunião Ministerial do Grupo de Trabalho de Agricultura (AWG) do BRICS – que aconteceu em Brasília, o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, revelou que o Brasil vai se colocar à disposição da China para “substituir” frigoríficos dos Estados Unidos no comércio de carne bovina.
Esta possibilidade surge no momento em que a China, em meio à guerra tarifária com os EUA, retirou a autorização de 396 frigoríficos americanos que estão proibidos de vender carne bovina ao país asiático. Deve-se levar em conta que a China foi o principal destino da carne bovina brasileira em 2024 e o plano é que este mercado aumente ainda mais, o que já vem acontecendo em alguns Estados, como no Mato Grosso do Sul.
O ministro da Agricultura afirmou que representantes da alfândega chinesa devem se reunir com o governo brasileiro na próxima terça-feira (22). As conversas, de acordo com ele, vão tratar da ampliação comercial entre os países, além de debater a adoção de protocolos conjuntos.
As tratativas entre as áreas técnicas do Brasil e da China podem pavimentar as negociações entre o presidente Lula e o presidente chinês, Xi Jinping. Com viagem marcada para maio, Lula deve colocar a ampliação comercial como uma das pautas das agendas na China.
Mato Grosso do Sul Ganha
Caso as negociações prosperem, Mato Grosso do Sul tem muito a ganhar. Em 2024, o Estado exportou carne bovina para 15 países: China, Estados Unidos, Chile, Turquia, Emirados Árabes Unidos, México, Egito, Uruguai, Itália, Israel, Arábia Saudita, Argélia, Hong Kong, Filipinas e Alemanha.

Secretário da Semadesc, Jaime Verruck, em evento do primeiro embarque de carne bovina para a China das plantas recém habilitadas à época a exportar para o país asiático (12/04/2024)
De acordo com o Comex Stat ((portal de estatística de comércio exterior do Ministério do Desenvolvimento Indústria e Comércio), a China se manteve como principal comprador do produto sul-mato-grossense (24,17% do total) e ainda incrementou suas aquisições em 25,12% em receita, na comparação dos dois últimos anos (de US$ 247,007 milhões para US$ 309,093 milhões) e em 30,96% em volume (de 50,444 mil toneladas para 66,068 mil toneladas).
Os dados atribuem esse aumento em 2024 tanto a importação pelo país asiático da quantidade de carne congelada, quanto a inclusão de novos produtos como carnes frescas ou refrigeradas e outras miudezas, que não haviam sido adquiridas em 2023.
Aumento da area podutiva – segundo o ministro Fávaro o Brasil é um dos “pouquíssimos” países do mundo capaz de expandir a área produtiva em dezenas de milhões de hectares, o que também se aplica ao Mato Grosso do Sul.
Reunião do BRICs
Durante a reunião em Brasília, os países firmaram uma série de compromissos que compõem a base da nova Declaração Ministerial de Agricultura do BRICS, fortalecendo a cooperação entre os países em temas estratégicos. Entre os principais avanços, estão:
Fortalecimento da Segurança Alimentar e Nutricional – Os países reafirmaram o compromisso com a Aliança Global contra a Fome e a Pobreza, promovendo a cooperação internacional e políticas públicas voltadas à redução da insegurança alimentar.
Valorização da Agricultura Familiar – Houve destaque ao papel dos agricultores familiares, povos indígenas e comunidades locais na produção de alimentos, geração de renda no meio rural e manejo sustentável dos recursos naturais. Os países se comprometeram a fortalecer políticas públicas e ampliar a cooperação técnica no âmbito da Década da Agricultura Familiar da ONU (2019–2028).
Criação da Parceria dos BRICS para a Restauração de Terras – Foi lançada uma iniciativa conjunta para promover a recuperação de áreas degradadas com foco em agricultura sustentável, florestas plantadas e segurança alimentar. A parceria também visa fortalecer a pesquisa sobre degradação do solo e soluções técnicas, além de estimular o financiamento por bancos de desenvolvimento e setor privado.
Pesca e Aquicultura Sustentáveis – Foi criado um Diálogo sobre Pesca e Aquicultura para promover práticas sustentáveis, fortalecer cadeias de valor, apoiar pescadores artesanais e integrar fontes de energia renovável. A pesca artesanal foi valorizada como patrimônio cultural, com atenção à inclusão social e segurança alimentar.
Promoção da Participação de Mulheres e Jovens – Os ministros firmaram compromissos com a igualdade de gênero nos setores agrícola e aquícola, garantindo acesso de mulheres a recursos, crédito e inovação. Também foi reforçado o apoio à permanência de jovens no meio rural por meio de políticas de acesso à terra, educação, crédito e tecnologias.
Sustentabilidade e Inovação – O encontro reforçou o foco em uma agricultura sustentável e resiliente ao clima, com práticas agroecológicas, uso de bioinsumos, manejo eficiente da água e conservação da biodiversidade. Também foi defendido o fortalecimento da Plataforma de Pesquisa Agrícola dos BRICS (BARP) e o intercâmbio de tecnologias e inovações.
Mecanização e Tecnologia para Pequenos Produtores – Os países destacaram a importância de ampliar a produção e a difusão de máquinas e equipamentos adaptados à realidade da agricultura familiar, com estímulo à organização coletiva por meio de cooperativas e associações.
Comércio Agrícola Sustentável – Avançaram as discussões sobre a criação de um Mecanismo de Financiamento de Importações de Alimentos, inspirado na FAO, como forma de apoiar países em desenvolvimento. Também foi apoiada a proposta de criação de uma Bolsa de Grãos dos BRICS, para facilitar o comércio intrabloco, com base em práticas sustentáveis, justas e alinhadas às metas dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).
Facilitação do Comércio com Certificação Eletrônica – Foi promovido o uso de certificados eletrônicos fitossanitários e veterinários para tornar o comércio de produtos agrícolas, animais e pescados mais seguro e eficiente. Os países também apoiaram a adoção de normas da ONU/CEFACT e a interconexão entre plataformas nacionais de certificação.
Compromisso com o Plano de Ação 2025-2028 – Foi iniciado o processo de negociação do novo Plano de Ação para Cooperação Agrícola dos BRICS, que irá consolidar e operacionalizar os compromissos assumidos durante a reunião.
Ao final do encontro, o ministro Carlos Fávaro reforçou o convite aos países do BRICS para participarem da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP 30), que será realizada em novembro, na cidade de Belém (PA), na região amazônica. Segundo ele, a COP será uma oportunidade histórica de integração entre as agendas de agricultura, clima e desenvolvimento sustentável, com protagonismo dos países do Sul global.